segunda-feira, 29 de março de 2010

MENSAGEM DO DIA INTERNACIONAL DO LIVRO INFANTIL


Todos os anos, o IBBY (International Board on Books for Young People) dirige às crianças de todo o mundo uma mensagem de incentivo à leitura. Este ano, foi a escritora espanhola Eliacer Cansino a autora desta mensagem. O cartaz do IBBY é da autoria da ilustradora Noemí Villamuza. (em cima)

A DGLB (Direcção Geral do Livro e das Bibliotecas) assinala esta data com a publicação de um cartaz da autoria de Madalena Matoso, vencedora da 13ª edição do Prémio Nacional de Ilustração. (em baixo)

MENSAGEM DO DIA INTERNACIONAL DO LIVRO INFANTIL 2010
Um livro espera-te. Procura-o

Era uma vez
um barquinho pequenino,
que não sabia,
não podia
navegar.
Passaram uma, duas, três,
quatro, cinco, seis semanas,
e aquele barquinho,
aquele barquinho
navegou.
Antes de se aprender a ler aprende-se a brincar. E a cantar. Eu e os meninos da minha terra entoávamos esta cantiga quando ainda não sabíamos ler. Juntávamo-nos na rua, fazendo uma roda e, ao despique com as vozes dos grilos no Verão, cantávamos uma e outra vez a impotência do barquinho que não sabia navegar.
Às vezes construíamos barquinhos de papel, íamos pô-los nos charcos e os barquinhos desfaziam-se sem conseguirem alcançar nenhuma costa.
Eu também era um barco pequeno fundeado nas ruas do meu bairro. Passava as tardes numa açoteia vendo o sol esconder-se à hora do poente, e pressentia na lonjura – não sabia ainda se nos longes do espaço, se nos longes do coração – um mundo maravilhoso que se estendia para lá do que a minha vista alcançava.
Por detrás de umas caixas, num armário da minha casa, também havia um livro pequenino que não podia navegar porque ninguém o lia. Quantas vezes passei por ele, sem me dar conta da sua existência! O barco de papel, encalhado na lama; o livro solitário, oculto na estante, atrás das caixas de cartão.
Um dia, a minha mão, à procura de alguma coisa, tocou na lombada do livro. Se eu fosse livro, contaria a coisa assim: «Certo dia, a mão de um menino roçou na minha capa e eu senti que as minhas velas se desdobravam e eu começava a navegar».
Que surpresa quando, por fim, os meus olhos tiveram na frente aquele objecto! Era um pequeno livro de capa vermelha e marca-de-água dourada. Abri-o expectante como quem encontra um cofre e ansioso por conhecer o seu conteúdo. E não era para menos. Mal comecei a ler, compreendi que a aventura estava servida: a valentia do protagonista, as personagens bondosas, as malvadas, as ilustrações com frases em pé-de-página que observava uma e outra vez, o perigo, as surpresas…, tudo isso me transportou a um mundo apaixonante e desconhecido.
Desse modo descobri que para lá da minha casa havia um rio, e que atrás do rio havia um mar e que no mar, à espera de partir, havia um barco. O primeiro em que embarquei chamava-se Hispaniola, mas teria sido igual se se chamasse Nautilus, Rocinante, a embarcação de Sindbad ou a jangada de Huckleberry. Todos eles, por mais tempo que passe, estarão sempre à espera de que os olhos de um menino desamarrem as suas velas e os façam zarpar.
É por isso que… não esperes mais, estende a tua mão, pega num livro, abre-o, lê: descobrirás, como na cantiga da minha infância, que não há barco, por pequeno que seja, que em pouco tempo não aprenda a navegar.
ELIACER CANSINO
Tradução: José António Gomes

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